terça-feira, outubro 18, 2016

The Rights of Women, de Anna Laettitia Barbauld



No fim do século XVIII, a escritora Anna Laetitia Barbauld escreveu esse poema em resposta ao Reivindicação dos direitos da mulher, de Mary Wollstonecraft. O poema — que oscila entre convocar as mulheres a se insurgir e entre ironizar essa mesma proposta —  não o responde a sério, de fato, visto que seu sarcasmo e suas ironias tratam de posturas que não estão presentes no manifesto de Wollstonecraft. Mary nunca propôs uma ascensão feminina resultante do subjugo masculino. Ao contrário, ela propõe uma educação que fortaleça a parceria entre os gêneros, e não a rivalidade. O poema distorce as ideias de Wollstonecraft, talvez devido ao ressentimento decorrente de críticas que Mary teria feito à poeta.

Apesar da insurgência contra o manifesto de Mary, Barbauld foi, além de poeta, ensaísta e educadora, uma ativista muito influente, tendo advogado pela liberdade religiosa e pela abolição da escravatura.

***

Yes, injured Woman! rise, assert thy right!
Woman! too long degraded, scorned, opprest;
O born to rule in partial Law's despite,
Resume thy native empire o'er the breast!

Go forth arrayed in panoply divine;
That angel pureness which admits no stain;
Go, bid proud Man his boasted rule resign,
And kiss the golden sceptre of thy reign.

Go, gird thyself with grace; collect thy store
Of bright artillery glancing from afar;
Soft melting tones thy thundering cannon's roar,
Blushes and fears thy magazine of war.

Thy rights are empire: urge no meaner claim,—
Felt, not defined, and if debated, lost;
Like sacred mysteries, which withheld from fame,
Shunning discussion, are revered the most.

Try all that wit and art suggest to bend
Of thy imperial foe the stubborn knee;
Make treacherous Man thy subject, not thy friend;
Thou mayst command, but never canst be free.

Awe the licentious, and restrain the rude;
Soften the sullen, clear the cloudy brow:
Be, more than princes' gifts, thy favours sued;—
She hazards all, who will the least allow.

But hope not, courted idol of mankind,
On this proud eminence secure to stay;
Subduing and subdued, thou soon shalt find
Thy coldness soften, and thy pride give way.

Then, then, abandon each ambitious thought,
Conquest or rule thy heart shall feebly move,
In Nature's school, by her soft maxims taught,
That separate rights are lost in mutual love.

TRADUÇÃO NÃO LITERÁRIA
(Sem métrica e rima)

Os Direitos das mulheres

Sim, mulher ferida! Levanta-te, afirma teu direito!
Mulher, há tanto degradada, desprezada, oprimida;
Nascida para reger a despeito da Lei parcial,
Repõe teu império nativo sobre o peito!

Segue adiante trajada em armadura divina;
Esse anjo de pureza que não admite mácula
Vá, pede ao Homem a renúncia de sua orgulhosa Regra
E beija o cetro dourado de teu reino.

Vá, prepara-te com graça; arrecada provisões
De artilharia brilhante, reluzente desde longe;
Teu canhão emite sons brandos
Cora e teme teu paiol de guerra.

Teus direitos são império: não cabem modestos apelos,-
São sentidos, não definidos, e se são ponderados, acabam perdidos;
Como mistérios sagrados, que recusados à fama,
São muito venerados, esquivando-se de ser discutidos.

Usa tudo o que o talento e a arte indicam que possa dobrar
O joelho de teu teimoso inimigo.
Faz do Homem desleal teu súdito, não teu amigo;
Tu deves comandar, mas nunca podes ser livre.

Assusta o licencioso e reprime o rude;
Amolece o taciturno, suaviza o cenho sombrio
Que teus favores, mais que prendas de príncipes, sejam processados;
Ela, que arrisca tudo, concederá o mínimo.

Mas não espera, ídolo adorado da humanidade.
Ficar segura nessa iminência orgulhosa;
Submetendo e submissa, logo descobrirás
Tua frieza reduzida, e teu orgulho perdido.

Então, abandona cada pensamento ambicioso,
Conquista ou domínio, teu coração se moverá debilmente,
Na escola da natureza, com suas  máximas suaves,
Esses direitos desiguais se perdem face ao amor mútuo.

Nenhum comentário: