quinta-feira, abril 24, 2014

Nas Metamorfoses, em duzentas e quarenta fábulas,
        Ovídio mostra seres humanos transformados em
        pedras, vegetais, bichos, coisas.
Um novo estágio seria que os entes já transformados
        falassem um dialeto coisal, larval, pedral etc.
        Nasceria uma linguagem madruguenta, adâmica,
        edênica, inaugural —
Que os poetas aprenderiam — desde que voltassem às
        crianças que foram
Às rãs que foram
Às pedras que foram.
Para voltar à infância, os poetas precisariam também de
        reaprender a errar a língua.
Mas esse é um convite à ignorância? A enfiar o idioma
        nos mosquitos?
Seria uma demência peregrina.
 
(O guardador de águasManoel de Barros.)

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